Cientistas acreditam que brilho misterioso no centro da Via Láctea pode estar ligado à matéria escura

Nova simulação de supercomputador indica que colisões de partículas invisíveis podem explicar radiação detectada pela NASA

Ryan Davi

10/20/20252 min read

Cientistas acreditam que brilho misterioso no centro da Via Láctea pode estar ligado à matéria escura

Nova simulação de supercomputador indica que colisões de partículas invisíveis podem explicar radiação detectada pela NASA

No coração da nossa galáxia, a Via Láctea, há um brilho misterioso e difuso de raios gama — um tipo de radiação extremamente energética, geralmente emitida por estrelas em rotação rápida ou em explosão.

Esse fenômeno foi identificado pela primeira vez em 2008, logo após o lançamento do Telescópio Espacial Fermi, da NASA, e desde então intriga astrônomos e físicos do mundo todo.

A origem desse brilho divide opiniões: enquanto parte da comunidade científica acredita que ele é causado por púlsares — restos giratórios de estrelas mortas —, outros sugerem que pode ser resultado de colisões de matéria escura, uma forma invisível de matéria que representa cerca de cinco vezes mais massa do que a matéria comum no universo.

Durante anos, estudos sustentaram ambas as hipóteses, mas havia um obstáculo para a teoria da matéria escura: o formato do brilho. Ele parecia acompanhar o contorno do bojo galáctico, uma região densa no centro da Via Láctea repleta de estrelas antigas — o que favorecia a explicação dos púlsares. Se o brilho viesse de matéria escura, esperava-se uma distribuição mais esférica.

Agora, uma nova simulação feita em supercomputadores mudou o jogo. Pela primeira vez, pesquisadores conseguiram demonstrar que colisões de partículas de matéria escura também poderiam produzir um brilho com o mesmo formato observado, reforçando a teoria cósmica.

“Temos duas hipóteses: uma que envolve matéria escura e outra mais simples, ligada a estrelas antigas. Hoje, diria que há 50% de chance de o fenômeno estar relacionado à matéria escura”, afirmou Joseph Silk, astrofísico da Universidade Johns Hopkins e coautor do estudo publicado na revista Physical Review Letters.

A descoberta é significativa porque a matéria escura continua sendo um dos maiores mistérios da física moderna. Teorizada nos anos 1930 pelo suíço Fritz Zwicky e confirmada indiretamente nas décadas seguintes por astrônomos como Vera Rubin, ela é considerada essencial para manter galáxias unidas — mas nunca foi observada diretamente.

Silk e sua equipe criaram um modelo digital detalhado da distribuição da matéria escura na Via Láctea. O resultado mostrou que a região central teria uma forma achatada, semelhante a um ovo, compatível com os dados de raios gama captados pelo Fermi.

A expectativa agora está voltada para o Observatório Cherenkov (CTAO), atualmente em construção no Chile e na Espanha. Quando entrar em operação, previsto para 2027, o telescópio deverá captar raios gama com resolução muito maior — o que poderá confirmar se o brilho realmente vem de colisões de partículas de matéria escura.

Caso essa ligação seja comprovada, seria uma das descobertas mais revolucionárias da astrofísica, oferecendo a primeira evidência direta da existência dessas partículas invisíveis, conhecidas como WIMPs (Weakly Interacting Massive Particles).

Mas, se a matéria escura não for a responsável, os cientistas terão de voltar à estaca zero.

“Ainda não sabemos o que é a matéria escura — está em toda parte, mas permanece invisível”, disse Silk. “Se o CTAO confirmar essa ligação, estaremos diante de um dos segredos fundamentais do universo.”